terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Stallone Cobra.


Já contei sobre meu pai, sobre inúmeras desventuras que passei graças ao seu interminável desvelo em edificar meu caráter e fazer de mim um homem. Pois aqui vai mais uma.

Stallone Cobra. Max Prime, canal 80 da Net, numa madrugada dessas. Leia a sinopse do filme, feita pelo próprio canal, pelo qual eu pago mensalmente uma pequena grana:

Mais uma vez Stallone se enrola na bandeira americana e luta pela glória maior da humanidade caçando criminosos. Desta vez ele é um tira.

Note o sarcasmo, o preconceito. Eu mau conseguia parar de assistir uns poucos segundos, enquanto copiava a sinopse da tela para o papel. Naquele exato momento, acontecia uma sequência genial.

Ouve-se batidas eletrônicas, e as cenas foram editadas para encaixar com as batidas eletrônicas, como num video mashup ultra-pioneiro. As cenas são de 3 situações que acontecem simultaneamente, ok?

Vemos robôs, vemos o Cobra em ação e vemos o maníaco com seus seguidores fanáticos. Os robôs não são bem produzidos como os que o James Cameron tinha arrumado para o Schwarzenegger no Exterminador do Futuro. São robôs low budget, com latas de Nescau e olhos de celofane. Robôs feitos pelo Daniel Azulay, sacou? Então corta do robô para o Cobra dando num traveco. Corta para Maníaco amolando a faca. Volta para outro robô. Corta para o Cobra esganando um traficante. Corta para Maníacos brandindo machados num comício. Corta para
mais outro robô. Corta para o Cobra olhando desdenhosamente para pessoas do submundo. Corta para Maníaco experimentando o corte da faca no próprio indicador.

Eu, num estupor de incompreensão, sou pego de surpresa quando os robôs se revelam parte de um cenário de ensaio fotográfico, no qual a modelo é a personagem de Brigitte Nielsen, a mocinha do filme. Essa mesmo, que largou o Stallone por uma outra mocinha.

Os robôs eram uma piada do diretor, só para enganar todo mundo e depois amarrar as 3 situações da edição numa jogada de mestre. Idiotice, dirá você. Cidadão Kane, digo eu.

A mocinha sai do tal ensaio de fotos com o fotógrafo. Eles estão na garagem do prédio - o fotógrafo faz uma proposta chauvinista e indecorosa para ela, um instante antes de serem cercados pelos maníacos assassinos - claro que essa proposta justificará seu assinato sanguinolento e impiedoso. Machadada vai, facada vem, a mocinha escapa entre dezenas de cadáveres. E quem da polícia vai cuidar do caso? Cobra, claro. Percebeu o click entre as 3 situações?

Bom, para encurtar, senão vou estragar o filme para você que ainda não assistiu. Registro que a Brigitte Nielsen era uma gata, e também boa atriz. Dá para perceber que ela já pensava em largar o cinema, a fama, a riqueza e a condição de heterosexual só para não ter mais que aguentar aquele carcamano idiota.

Onde entra o meu pai nessa história? Era 1986 e o filme havia sido encurtado e proibido nacionalmente para menores de 18 anos, por causa da excessiva violência e porque um doido deu uns tiros durante uma exibição. Pois bem: estávamos em Parintins. Eu, menino, junto com ele desbravando aquele lugarzinho desnecessário, quando demos de cara com o letreiro do filme. Em Parintins, terra sem lei, Stallone Cobra estava em cartaz, versão original e sem censura. O velho não pensou duas vezes e assistimos ao filme, entre gritos e pedaços de picolé arremesados pela macacada.

Não sabia o que fazer com todas essas reminiscências até ontem. Meu pai hoje mora do outro lado do mundo e está hospedado em minha casa, para as Festas de Fim de Ano. Durante o jantar, sem mais nem menos, ele me diz: Vou te contar qual é o seu presente. Um DVD do Stallone Cobra!

Assombrado pela coincidência, narro toda a história acima para ele. Sem deixar de perguntar por quê me contar do presente, tão perto do Natal. Ele, com a boca cheia de parmesão:

- Porque esqueci de pôr na mala.

Pequena reflexão sobre o sexo.

Por que as ereções proibidas são as maiores?

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Romântico.

Assisti a um filme de arte perturbador. É da década de 60. Vemos a foto de um sorriso, em close. Mas essa foto dá lugar a uma outra quase idêntica, em que o sorriso está um pouco menos evidente. E assim vai, foto a foto, até o sorriso desaparecer e a expressão da boca ficar terrivelmente séria.

Vi também uma obra interessante: um quarto de casal pintado de branco. Cama, todos os móveis, as paredes e os objetos de decoração, inteirinho branco. Mas o quarto está cortado pela metade. É um tributo ao divórcio. Segundo a artista, que também fez o filme acima e mais algumas outras coisas notáveis, o quarto ilustra a manhã em que ela acordou e descobriu que seu marido na época, um tal Anthony Cox, havia dado no pé.

Eu gostei das obras porque me lembram umas coisas que vi do Cildo Meirelles, um brasileiro genial que só agora caiu nas graças da Tate Modern. Gostei também porque são antigas, como disse no começo, são da década de 60.

E finalmente, gostei porque são da Yoko Ono.

Uma artista absolutamente criativa, original, que surgiu em Londres e arrasou em Nova York, a ponto de chamar atenção de um dos 4 caras mais famosos do mundo na época. E que, ao se casar com ele, abriu mão de ter uma carreira, de ser reconhecida como artista. Pior, teve que aguentar mais pedras e merdas que a Geni do Chico Buarque. Por causa da Yoko os Beatles acabaram, o cara abandonou o rock para gravar músicas cheias de berros e barulhos. E Imagine.

Como grande admirador da música dos Beatles e de toda a aura que os caras criaram e desfrutaram, sempre me perguntei os mesmos porquês que todo mundo: o que diabos ela fez para pegar o cara? O que será que ela tinha que era tão bom, tão definitivo, a ponto dele decidir nunca mais aparecer sozinho nem em fotos? A ponto de montar uma banda não só pra tocar com ela, mas batizada com o nome dela? E I'm So Tired, que ele compôs durante uma separação deles que durou algumas semanas:

"I wonder should I call you, but I know what you would do. You'd say I'm putting you on, but it's no joke, it's doing me harm. You know I can't sleep, I can't stop my brain. You know it's three weeks, I'm going insane..."

De sair pelado, com ela, frente e verso, na capa de um disco? - foto que inclusive já invalida a suposição de que ela pudesse ser gostosa.

A resposta para todas as perguntas, que todo mundo ignorou embora o cara sempre repetisse nas entrevistas: "o gênio do casal não sou eu. É ela."

Eu percebi olhando para essa foto, na capa de uma Rolling Stone antiga. A última que os dois tiraram juntos, em 8 de dezembro de 1980, poucas horas antes do assassinato.


segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Uma foto.

Um cara que não tem as pernas passa na cadeira de rodas. A cadeira é daquelas com rodas inclinadas, mais estável para prática de esportes. Correndo ao lado dele vai um cachorro vira-lata, coleira presa à cadeira.

Aí percebo que o cachorro também é deficiente físico, não tem uma das patas dianteiras. Fascinado acompanho os dois em sua corrida, eles atravessam a rua e já estão longe quando eu tiro a foto.

Fico pensando em quem escolheu quem.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Pequena reflexão sobre a Lei da Gravidade.

Dizem que uma torrada sempre cai com o lado da manteiga virado para baixo.
Com o papel higiênico no banheiro aqui do trabalho é o oposto.

Terrorista.


Na fila para o raio-X, tira o sapato, tira o cinto, tira o relógio, tira o computador, a máquina apita e eu me desespero. Detetor de metais portátil, nada de metal? Nada de metal. Meu avião vai sair, eu ainda preciso passar na alfândega, meu amigo. Tira meia, levanta a camisa, vira os bolsos do avesso, e a tromba do povo da fila é maior que a própria fila. O senhor tem algum pino, alguma coisa de metal no corpo? Não, nada, só o aparelho. Aparelho? No dente. Será? Detetor de metais portátil. Piiii. Batata, como diria o Nelson Rodrigues. É o aparelho. Pondo o cinto, calçando sapato sem meia, eu digo para o guarda: se eu fosse terrorista suicida, pra que ía querer consertar o dente?

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira.

Dia desses fui assistir ao "Ensaio Sobre a Cegueira". Achei ótimo, independentemente de ter lido os comentários elogiosos do próprio autor do livro, notório antagonista de adaptações cinematográficas de suas histórias.

A metáfora da cegueira branca representar a linha tênue que mantém os homens civilizados é perfeita, verdadeiramente visual e por isso o filme funciona. Vemos que a passagem do estado racional ao bestial, com gente brigando por comida ou defecando ao lado de onde come não demoraria mais que poucos dias. Bastaria não ter sobre si os olhos e o juízo dos outros para que a decência, a dignidade e a moral fossem abandonados por completo. O mal e o bem estão nos olhos de quem contempla nossas ações. Me faz pensar em Sartre, que disse que o inferno são os outros.

Mas também me faz pensar na casa da praia, domingo de manhã, após o churrasco de sábado.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Síndrome de Tourette.

Ele está no banheiro da churrascaria rodízio, é o aniversário do pai da namorada dele. Ou, seu futuro sogro, segundo a mãe da namorada dele. Está aliviando a bexiga depois de 4 chopps, uma batida de limão com cachaça e uma de maracujá que estava doce, doce de doer os molares. Não bêbado, mas já altinho. A porta do banheiro se abre - sozinha, automaticamente, porque nas churrascarias rodízio é padrão que os banheiros tenham o mais alto padrão de qualidade. Talvez para aplacar a sensação de baixeza que domina a todos depois da indulgência às carnes sanguinolentas, ao álcool e frituras.
Entra o tio da namorada. Um tio por excelência: gordão, engraçado, palmeirense, pêlos nas orelhas, narinas, dedos e todos os lugares exceto na cabeça. O tio não perde uma piada, não perde, é daqueles caras que nasceram para rir. Nada em comum com ele, que continua mijando, um pouco mais tenso porque de fato não se trata da melhor situação do mundo a compartilhar com um tio de namorada desagradável. O tio estaciona seu gordo corpo diante do mictório adjacente. Solta um tremendo peido e ri gordamente. Ele sorri de volta, enojado. O tio retribui o nojo olhando para seu pau e soltando um risinho debochado, que implicita uma opinião sobre o tamanho de seu dote. Ele balança o pau, terminou de mijar. E diz, justo ele que quase nunca fala com o tio, muito menos para falar de coisas pessoais, ele diz:
- Gostou? Já já vai estar dentro da sua sobrinha.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Beth Ditto, sua vaca.



Gossip cancelou o show que aconteceria nessa quinta. Vai ser infernal recuperar o dinheiro dos ingressos. Quem mandou ficar dando moral para essa baranga?

Aldo é Everaldo?

Acabei de ler que o pai da Eloá, a que levou o tiro do namorado doido, não se chama Aldo. Se chama Everaldo, e foi reconhecido nos poucos segundos em que apareceu na TV sendo retirado de maca do local da tragédia. Segundo o jornal, quem o reconheceu foi um delegado de Alagoas. O Everaldo é acusado de vários crimes, incluindo homicídio. Eu não sou inteligente o bastante para encontrar, mas no meio disso tudo há alguma ironia.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

I hope for my own good.

Jantando num restaurante descolado encontro debaixo do meu guardanapo um outro guardanapo. Também de papel, mas todo diferente, com uns alto relevos imitando bordados. De um lado, tem um 100% carimbado de tinta preta. No outro canto, embaixo, um número 14 carimbado de tinta vermelha. Está claro que o guardanapo veio de fora, de algum outro lugar que não esse restaurante descolado.

Tem algo escrito. Com letra de mulher, em inglês. I hope, for my own good, that he stops calling.

Não entendo porquê alguém, além de tudo uma gringa, escrever isso num guardanapo, levar para um restaurante descolado e deixar escondidinho debaixo de outro guardanapo.

Quem será a gringa? Quem será o sujeito que a ameaça assim, com telefonemas, a ponto dela estar a beira de perder as estribeiras e mandar seus dogmas protestantes para a casa do chapéu?

Será que ela vai entrar no google, como eu entrei, e escrever I hope, for my own good, that he stops calling para ver se alguém achou o guardanapo e colocou num blog? São tempos tão loucos, esses em que a gente vive, que eu não vou me espantar se ela entrar aqui e deixar um comentário.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Surfistas mulheres são sempre feias.

Foi o que comentou um amigo, dia desses.
"E a Maya Gabeira?"
"Ah, a Maya Gabeira eu pegava. Mas só porque o pai dela deve ter bagulho do bão."

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dave Methods Band.

Fui ao show do Dave Matthews Band ontem. O trocadilho explica tudo. Porque foi o show mais certinho que eu já assisti na vida. Todas as músicas são iguais. Todos os músicos são excelentes, virtuosos. E chatos. Cada música começava com o violãozinho do líder, depois tinha um solo da guitarra, depois um solo do violinista, depois um solo do baterista, depois uma gracinha de um negão bola 7 que tocava várias coisas. O baterista estava mascando chicletes. Não, pior, ele estava fazendo bolas com um chiclete entre um solo e outro. Nunca vi nada menos rock and roll que um baterista fazendo bolas de chiclé. Os fãs da banda, muitos conversando de costas para o palco, não se importavam com nada disso. Nem com a dancinha que o vocalista fazia vez por outra, que lembra aquelas danças que os peões de rodeio de Barretos imitaram dos peões de rodeio do Texas. Notei uma rodinha que se comportava de maneira suspeita, fiquei observando e tentando imaginar que droga essa tribo toma. Um passava para o outro rápido, da maneira mais sorrateira possível. Ecstasy? Cocaína? Ácido? Aí, num intervalo entre canções as luzes se acenderam e deu para ver: era Tic Tac de laranja.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pedalinho.

Eu tinha uns seis anos.
Estávamos em algum lugar desses em que se leva crianças de seis anos para andar de charrete e passear no teleférico. Caldas Novas, sei lá.
Meu pai e eu subimos num pedalinho em formato de cisne. Fazia um pouco de frio e a lagoa que era o lugar dos pedalinhos era cor de barro, cheia de pequenas marolinhas causadas pelo vento, assustadora.
- O que acontece se a gente pára de pedalar, pai?
- Afunda, ué.

Para completar, logo em seguida:
- Aliás, que dor nas pernas... não agüento mais...

Até hoje eu tenho medo de cisne.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Crude Awakening.




















Acabou de rolar o Burning Man 2008.
Crude Awakening foi o nome da estátua que queimaram no de 2007. Com atraso de exatamente um ano, toco no assunto.

Para vocês, caipiras não viajados como o búfalo aqui, segue uma definição do Burning Man:
um belo dia nerds saíram de seus quartos e da frente de seus computadores e descobriram o fogo. Aí eles passaram a fazer uma fogueira anual em forma de pessoa, para celebrar o fato de poderem destruir coisas. Vai ver, como são nerds, nunca fizeram castelo na praia.

E como são nerds norte-americanos, concluíram que dava para ir mais longe. Adicionaram luzes, fogos de artifício, música eletrônica, drogas, patrocinadores e, claro, conceitos. Isso é o Burning Man. Mas, se você for jovem e não tão cansado como eu, pode chamar de Carnaval para piromaníacos... o nosso Carnaval, que é para ninfomaníacos, me parece mais mercadológico.

O conceito desse ano era protestar contra a dependência americana do petróleo. A fogueira era uma gigantesca torre petrolífera de madeira, de uns 15 metros de altura, cercada por figuras humanas gigantes feitas de aço retorcido. Assisti a um vídeo de bastidores, mostrando a confecção das tais figuras, e como só os americanos conseguem me deixar, fiquei espantado. Foram mais de 6 meses de trabalho ininterrupto, de quase 30 pessoas, para realizar as peças que seriam consumidas pelo fogo.

As figuras ficaram belas, parecendo o esqueleto do Exterminador do Futuro depois de perder a pele. Elas foram agrupadas no entorno da torre de petróleo, em poses de contrição e devoção religiosa.

Torre e pessoas instaladas, começa o espetáculo. Rojões, fogos de artifício e um fogaréu miserável. A ovação e a gritaria crescem junto com o fogo, a espera do colapso iminente da torre e de um clímax que parece óbvio. Mas epa: clímax?

Ocorre no vídeo e provavelmente a todos os presentes que fogo não sabe acabar direito. Não apaga no auge. Morre devagar, ainda mais naquela ambiência de controle e segurança que são os EUA.

Então entendi o nome: crude awakening quer dizer despertar bruto. Depois de tanto brincar com fogo, os participantes vão acordar tendo mijado na cama.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Playcount do iTunes.

Eu tenho uma neurose: detesto ter músicas não tocadas no iPod.

São 10 mil músicas, então é muito provável que numa única vida eu não conseguisse escutar todas... enfim, eu comecei admitindo que é uma neurose.

Mas vai que um dia, fuçando no iTunes em horário de expediente, descobri que dá para organizar as músicas pela quantidade de vezes em que foram escutadas. Com um clique.
Minha intenção era, neuroticamente, tocar as que nunca haviam sido tocadas. Só que no meio do caminho comecei a descobrir coisas importantes sobre a minha personalidade.

Descobri, por exemplo, que escutei I've Got a Feeling dos Beatles 29 vezes. Where's My Mind, dos Pixies, ouvi 15 vezes. Iron Man, do Black Sabbath, 22 vezes. Iron Man tem 5 minutos e meio. O que significa que eu passei mais de duas horas ouvindo o Ozzy cantar um hino ao Ultraseven. E Quelqu'un M'a Dit da Carla Bruni? 8 vezes, multiplicado por 2 minutos e 27, dá mais tempo de Carla Bruni gemendo no meu ouvido que o Sarkozy jamais sonhou.

Quando eu já estava perto de me achar melhor que o Nick Hornby, tamanha a versatilidade do meu iPod, achei Dá Um Close Nela, do Erasmo Carlos, tocada 3 vezes. Babydoll de Nylon Combina com Você, 1 vez. E Total Eclipse of The Heart (Turn Around, Bright Eyes...) 5 vezes.

Você não é o que você come: é o que você ouve. E eu me sinto meio metamorfose ambulante, ainda que não tenha escutado essa nenhuma vez.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

É OURO, PORRA!


Essa Maurren Maggi dá um caldo.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Needles and Pins.

Quase todo mundo que conhece música e merece meu respeito - Lester Bangs, Chuck Klosterman, Luis Caldas - amam os Ramones.

Já eu, só gosto de uma música: Needles and Pins. É uma regravação de uma balada romântica dos anos 50. E todo mundo acha uma merda. Em qualquer playlist que eu tente escondê-la, ela toma vaias. Eu defendo que é do Ramones, todo mundo odeia.

É duro ser búfalo no meio de uma manada de gnus mancos.

Nem tudo está perdido, Brasil. Ainda falta perder no revezamento.

As três frases mais ouvidas na TV:

1) ... está fora da disputa por medalhas.
2) ... se despede das Olimpíadas.
3) "Fiz o meu melhor mas não deu."

Obs: Eu sei que não devia falar mais desse assunto. Mas depois de assistir ao papelão contra a Argentina, não resisti. Acho que o Ronaldinho devia mudar de apelido. E como Ronaldo Gordo já está sendo usado, ele podia virar Ronaldo Sedã, o meia com o maior porta-mala da categoria.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Post Final sobre a Olimpíada.

Nada mais precisa ser dito pelo Búfalo Filhote a respeito dos Jogos Olímpicos de 2008. Não depois de ler esse blog: é genial.

Bronze Brasil 2008: No bronze a gente é ouro.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Post semi-final sobre a Olimpíada.

Durante os intervalos das provas de natação, na China, toca Ilari Ilari Ilari-ê, da Xuxa.
Posso estar louco, mas juro que ouvi.

Classe A gargalhada.

A Bufalo Filhote Ltda. recentemente contratou uma consultoria de marketing para estudar a audiência maciça que o blog vem recebendo. Quem sabe eu em breve começo a postar anúncios publicitários, além dessas bistecas filosóficas que você, você e você tanto gostam.

Num dos muitos estudos que me apresentaram, saltou aos olhos a definição título deste texto: classe A gargalhada. É assim que o marketing se refere aos ricos. Porque simplesmente dizer classe A não define nem para os marqueteiros o que é um rico - não importam somente as posses materiais ou a renda mensal superior a 685 salários mínimos. Não poderiam adotar o critério das pilhas, A, AA, AAA, AAAA?

Não, é preciso mencionar que os ricos gargalham. Me lembra a lenda da Maria Antonieta sobre os pobres famintos, "não têm pão? Que comam brioches, oras". A classe A gargalhada vai no Shopping Iguatemi comprar uma calça da Diesel por 1000 reais. Paga 150 reais numa taça de champanha Veuve Clicquot no Café de La Musique. Come um sanduíche no Forneria San Paolo por mais cenzão e quer mais é curtir a vida, porque tipo assim, dinheiro tem que circular.

A merda é que de um lugar para o outro o sinal às vezes fecha. E se tem alguém parado na esquina, a gargalhada some rapidinho.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Saco de Olimpíada. Não tem outro assunto?

Após outras 19 derrotas no judô durante a madrugada, o Brasil deposita suas últimas esperanças em Ednanci Silva. Vai com tudo, Ed!!!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Michael Phelps, a lenda.

Por mais que você tente ignorar as Olimpíadas de Beijing, tem horas que é impossível.

Aliás, por que não Pequim? Outro dia me perguntaram onde fica Beijing, se é longe de Pequim.

Mas não dá para ignorar por duas razões. A primeira: a TV só fala disso. Até na RAI, o pior canal de TV do mundo, é o único assunto.

E a segunda: por causa das propagandas falando de Olimpíada. Uma bobajada sem tamanho, uma pior que a outra. E a que mais me irrita é aquela com o Tiago Pereira, nadador brasileiro. O cara carrega tocha debaixo d'água, tira dinheiro debaixo d'água, aplica no overnight debaixo d'água. Mas aí, na hora que vale medalha, nada. "É uma pena, o Brasil está fora das finais...", vamos para o intervalo e lá está o bonitão outra vez.

Já que não tem jeito de não assistir, vou torcer para o Phelps. Pelo menos ele tem cara de ídolo.


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Almoço.

Quem me visse hoje no restaurante poderia deduzir que eu estava almoçando sozinho.
Eu prefiro dizer que não: estava almoçando com o meu Ego.
E ele só come porcaria.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Abertura da Olímpiada na China.

Como eu previa, a festa de abertura dos Jogos de Pequim foi caída. Um monte de coreografias mal ensaiadas, vários buracos na hora de formar aqueles painéis humanos comunistas, playback na hora da menininha tocar piano.

Um único momento que eu gostei foi quando acenderam a pira olímpica.

Para quem não viu: um monge tibetano sozinho no centro do palco. Ele se ateou fogo e saiu correndo, em chamas, aí pulou dentro da pira e ela acendeu. Achei fudidamente original.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Megasena.

Nem vi quem foi o ganhador da última Megasena acumulada. Mas sempre rolam aquelas conversas, "o que você faria com a grana?".

Eu mandaria fazer uma vinheta igual a do Beto Carrero, com o meu nome escrito pelo chicote, junto com a musiquinha: tan tan tan...bufalofi-LHOTE!!!!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

A um velho amigo.


Tem um conto do Francis Scott Fitzgerald que sempre teve significado especial para mim: um bebê nasce com um corpo de 70 anos. Logo a família percebe que o bebê se desenvolve ao contrário, ele rejuvenesce com o tempo. Num dado momento o bebê fica com a mesma idade que o pai, é quando eles são mais felizes, mas logo em seguida o bebê se torna mais jovem e inexperiente e os dois se desentendem como todo pai e filho. [desculpe se eu estraguei o trabalho do cara, leia o livro que é realmente genial, "Seis Contos da Era do Jazz"].

Sempre brinquei que teria nascido com 70 anos, porque só isso explicaria o meu mau humor e o meu ceticismo com relação à vida. Ao longo desta eu conheci e convenci muita gente de que esta hipótese poderia ser verdade, de tanto que eu sempre me esforcei em ser "maduro para a idade" - ou seja, um chato. Só que ao contrário do Benjamin Button do conto de Fitzgerald, eu não estou mais jovem com a passagem do tempo. Cada dia mais ranzinza e velho, assisto com inveja à juventude de gente que nasceu antes de mim.

Como um amigo que eu tenho há muitos anos. Ele só melhora. As histórias que compartilhamos entre cervejas e partidas de pebolim eu já esqueci. Só lembro que tínhamos perguntas, tínhamos um monte de perguntas, que o monte de gente ao redor era incapaz de responder. Eu um jovem velho de 20 anos, ele um velho jovem de 30. Éramos próximos, nos distanciamos por culpa da vida e quando nos reencontramos já éramos outros: ele um rapaz de 40 e poucos, e eu um velho de 30. Agora estamos mais distantes do que nunca. Nos vimos recentemente num safári que a manada a que pertenço fez pela França. Conversamos pouco, muito menos do que devíamos ter conversado. E agora, há 5 minutos atrás, vi as obras de arte que meu velho amigo anda fazendo em Portugal. Vi que eu posso ter continuado cheio de perguntas, mas o meu amigo não. Ele está cheio de respostas.

Ilustrações de Renato Lopes.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Olimpíada na China.


E
stou cagando para essa Olimpíada que vem aí.

Um pouco pelo horário das transmissões - apesar que os jogos de Sydney eu acompanhei com interesse mesmo morrendo de sono. Outro pouco porque acabamos de passar pelo Pan, e o Pan encheu o meu saco com tanta cobertura. Acho que foi o primeiro evento esportivo com 200% de presença na internet e eu acabei vendo mais do que precisava. Como aquele discurso do presidente da Odepa: ele falando "Hoy!" e o Maraca respondendo "Oooooiiiiiii...". Duas vezes.

Mas no fim das contas, por que China? Por que Pequim? Eu odeio a China. É o país mais errado do mundo e no entanto é um dos mais respeitados. Mesmo com uma história cheia de atrocidades impublicáveis, inclusive recentes como no Timor e no Nepal.

Aplicaram lá a mesma maquiagem que no Rio durante o Pan. O ar normalmente irrespirável por tanta poluição vai estar aceitável graças a um shutdown durante os jogos. Os lagos onde se disputam a canoagem, a vela e outros esportes estão sendo mantido limpos na base da química - assim que sair a última medalha, voltam os coliformes.

A língua deles é irritante. Li que para cada palavra em chinês existem 4 entonações possíveis. E que cada entonação dá um significado para a palavra, por exemplo: você fala yuÃn! com ênfase no A e significa amor. Mas se disser yÚan!, com ênfase no U, está pedindo uma colonoscopia.

A comida deles é nojenta, os caras põem pra dentro escorpiões, gafanhotos e cachorros.

A China é o único habitat dos pandas, que são bichinhos absolutamente idiotas e broxas - onde já se viu um urso que só come bambu? Puta veadagem.

É o país das falsificações e das versões grosseiras. Por sinal os Macintoshs, depois que passaram a ser fabricados na China, viraram bosta.

E a China ainda inventou o Dr. Liaw. Ele é o cara que me espeta um monte de agulhas desde que eu arrebentei o ombro fazendo o que não devia. Dói, mas o desgraçado gosta. E ainda te espeta na hora de pagar.

Então, além de odiar a China, eu também odeio o China.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Só para cumprir tabela*.

Fui assistir no campo a um jogo de futebol válido pelo Brasileirão. Sentei na arquibancada central, bem atrás das placas de publicidade - ou seja, na seção que as câmeras da TV mostram.

Sempre me intrigou a qualidade dessas placas. Para mim a importância do jogo se mede por elas. Se tiver Itaú, Skol, Brahma, TIM, é porque o jogo é bom. Agora se aparece Fatal Surf, eu já sei de antemão que o jogo vai ser ruim.

Mas como disse, fui ao estádio e ainda por cima fiquei atrás das placas - não podia prever como seria o jogo. E ao prestar atenção no que podia ver, que era o lado de trás da publicidade, fiquei chocado. As placas são feitas de lona, amarradas em molduras de madeira que só param em pé graças a sacos de areia. Artigos realmente simplórios, feitos da maneira mais rastaqüera possível.

É uma metáfora excelente para a situação do nosso campeonato. Por trás das câmeras é tudo feito às pressas, para descarte, com o mínimo de custo possível. O Brasileirão é longo e tem times demais para ser interessante - a queda galopante de público prova isso.
Antes de 1971, quando aconteceu o primeiro nacional (Atlético MG campeão?????) só os Estaduais e o Rio X São Paulo chamavam a atenção da torcida brasileira. Pela simples razão de serem pouquíssimos times disputando o título. Eram 6 clubes em São Paulo e Rio, 2 ou 3 clubes na maioria das outras capitais. Agora o que vemos são alguns poucos jogos que prestam entre os times grandes e um montão de jogos que não servem para nada, dão um sono desgraçado, e existem só para cumprir tabela.

O interesse é criar um formato que renda dinheiro para a TV, mesmo que nos bastidores esse formato acabe com a magia do nosso maior patrimônio. Como aconteceu comigo ao descobrir que as placas de publicidade são lonas plásticas presas com sacos de areia.







* Os mais atentos entre os milhares de leitores hão de notar: esse texto sem graça não tem profundidade nem relevância. Mas eu prometi anteriormente escrever ao menos uma vez por semana. Por isso o post tem esse título.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

terça-feira, 22 de julho de 2008

O melhor amigo do homem.

A mulher do meu irmão pediu um cachorro de presente. Ele comprou um balão de gás em forma de cachorro, ela ficou zangada, ele ficou puto com a zanga dela e deu o balão para uma menininha, que amou. Aí me perguntaram se eu tinha cachorro, respondi que não.

Eu tenho este blog.

Dá trabalho como cachorro, precisa de tempo e atenção como cachorro. E morre por negligência do proprietário, como cachorro. Outro dia vi um blog dedicado a blogs que só tiveram um post, chamava One Post Wonders (se não era esse o nome, deveria ter sido, não?). Também estive acessando os blogs de conhecidos que passam eventualmente por aqui: muitos estão com as costelas aparecendo, com sarna, bernes formidáveis. Abandonados.

Por isso eu decidi voltar a escrever, e com freqüência. Pelo menos uma vez por semana. Não que alguém além de você vá ler, mas há que se ter responsabilidade. Abane o rabinho, Búfalo Filhote.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O espinho.

Não consigo escrever nada, não consigo concatenar mais do que 5 linhas desde que o espinho apareceu na minha pata. Tento me concentrar, mas a minha cabeça caminha em 12 direções diferentes. E eu me sinto escrevendo uma redação de vestibular, confundindo temas. Relacione a fome na África, a Tomatina na Espanha e o Bolo do Bixiga, sei lá, por aí vai. Penso no espinho, que saiu mas às vezes parece que continua lá, como um pressentimento. Não dói quase nada, eu já caminho normalmente e quem me vê não imagina que eu possa ter sofrido e continue sofrendo por causa de um negocinho de um centímetro que mal se via.
É que eu não consigo entender como o espinho surgiu, para começo de conversa. Eu não senti nada. Não andei em locais espinhosos. Nunca fumei (búfalos que fumam têm maior incidência de espinhos nas patas). E ninguém pode me garantir que eu não vá pisar novamente em outro espinho e que esse se aloje na minha pata e tudo comece outra vez. Escrever com isso na cabeça é torturante, porque é o único assunto no qual eu consigo colocar foco. Bom, vou continuar tentando, apesar dos 34 rascunhos já salvos que não deram em nada. É como eu espero que termine o espinho, dando em nada.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Gramática.

Sou um sujeito sem predicado.

terça-feira, 10 de junho de 2008

A Lei Dunga.

Quando a Seleção pagou o mico dos micos contra a França em 2006, chegamos à conclusão que as estrelas do futebol precisavam de vergonha na cara. Talvez também de umas bolachas na cara, e para isso chamaram Dunga (com quem todo mundo concordou na época). Aí ele ganhou a Copa América de maneira surpreendente, com direito a golaço do Júlio Batista (que é volante mas estava de atacante para ódio de muitos). Não faltou gente para elogiar e para esquecer de tudo que se sabia antes: Dunga é despreparado, cabeça dura e rancoroso, características que atrapalham muito no cargo. Agora que começou a fase complicada e essas características estão visíveis a quilômetros de distância, ninguém mais se lembra da Copa América.

A Lei Seca, assunto da vez, me faz pensar no Dunga. É preciso reduzir as mortes no trânsito, como era preciso fazer a Seleção ganhar. E faltava motivação aos jogadores, assim como falta consciência para as pessoas não dirigirem depois de encher a cara. Mas aí o que o Brasil decide fazer? Cria uma restrição exagerada para o consumo de álcool, do mesmo jeito que criou um disciplinador exagerado para o cargo de técnico canarinho. Ou seja: a Lei Seca é igualzinha ao Dunga.

Começa com polêmica. Aí os bons resultados iniciais silenciam os críticos. Mas, com o tempo, as falhas começam a ficar evidentes, o país inteiro se revolta e daqui a pouco a solução que era de todos passa a ser a cretinice de alguns.

Evidente que ninguém quer ver gente morrendo no trânsito, e que isso é muito mais importante que os resultados da nossa equipe de futebol. Mas é irritante que uma questão fundamental como educação no trânsito seja tratada de maneira tão leviana, discutida com a mesma profundidade que se usa para preferir o Maicon que o Daniel Alves na lateral direita. Ficou nas mãos de PMs mal-treinados, com bafômetros que a Constituição nos desobriga baforar e funcionando na base da intimidação. E também é irritante que tanta gente informada e esclarecida continue fingindo que acredita que tudo está resolvido e que, por causa de multas altíssimas e ameaça de perder a carteira de habilitação ninguém mais vá beber antes de dirigir - no país que tem a Inbev e é o maior mercado mundial da Fiat e da Volkswagen.

A Lei Seca usa uma roupa tão ridícula como aquela do Dunga no jogo contra Portugal.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ronaldo e os joelhos.


Os mais de mil leitores fiéis que acompanham este extravase de fúria que é meu blog se lembram quando Ronaldo esboçou uma volta por cima no Milan e eu previ que ía dar merda.

Mas nem mesmo um búfalo com poderes paranormais como eu poderia imaginar o tortuoso caminho pelo qual o Fenômeno iria enveredar.

Minha teoria: o gogó dos travecos era tão grande que, no estupor alcoólico do maior craque de nossa história recente, lhe pareceram joelhos. E ele, hipnotizado por articulações tão funcionais e hábeis, tão distintas das suas, se deixou levar até o point of no return.

Mas se não comeu, tudo está bem. Né?

quinta-feira, 20 de março de 2008

Traumas.




O Atari era vendido como diversão para a família. Na minha família, não. Meu pai tinha inveja do fato de eu jogar melhor que ele, ficava bravo de perder para mim. Uma vez arrancou um cartucho sem desligar o aparelho, jogou-o na parede. Lembro que a tela ficou cheia de riscos verticais de várias matizes de roxo, verde, cinza, e um zumbido estranho.

Já minha mãe só jogava Pacman. Até que se divertia, embora jogasse muito mal. Ela me convenceu a jogar fugindo dos fantasmas, pois comê-los despertaria neles uma invencível sede de vingança.

Até hoje fujo dos meus fantasmas.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Corinthiano sofre.

O morador chega com seu carrão que custou 170 salários mínimos ao portão que está quebrado. São duas da manhã e o vigia que ganha 1 salário mínimo tem que levantar de sua cadeira lá no fundão da garagem para vir abrir. São duas da manhã e o vigia, apesar de ganhar para vigiar, dorme o sono dos justos. O morador hesita. Desço ou buzino? Dilema burguês: são 2 da manhã, o vigia vai se assustar com a buzina, vai sair correndo na direção dos faróis acesos feito um morcego cego - imagina uma pupila dormindo ter que olhar para um farol às 2 da manhã? -, pedirá desculpa e terá medo de ser dedurado para o síndico porque estava dormindo. Custa descer e abrir eu mesmo? O morador desce e abre o portão. O vigia acorda e demora a entender o que se passa. Seus olhos estão ardendo, as pernas dormentes por causa da cadeira desconfortável. Ouve o som das portas do carrão sendo trancadas por controle remoto. Abriu o portão ele mesmo. Custava dar uma buzinada? E ainda apagou o farol, pra eu não acordar e ele poder me dedurar para o síndico, esse porra. Vai dizer que eu estava dormindo, e eu só estava distraído.
Morador: E o Coringão, hein? E o Acosta?
Vigia: Nem me fale... comeu a bola ano passado, agora não joga nada...
Morador: Ô fase, né?
Vigia: Ô...
Morador: Valeu, então. Boa noite...
Vigia: Boa noite...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Homofobia, capítulo XXVI.

Tem um colega no trabalho que é gay. Conversamos pouco, sempre de passagem pelo corredor. Ele me cumprimenta com um impessoal "Oba.". Apesar de ser um cumprimento neutro, muito me incomoda por uma questão de lógica: é um homem gay dizendo "Oba" toda vez que me vê.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O roubo fajuto do Masp.

Aí roubaram 2 quadros do Masp.

Um que o Van Gogh pintou segurando o pincel com a orelha (ficou tão ruim que ele cortou fora a orelha) e outro do Portinari que mostra um negão igualzinho ao Valdisclei aqui da portaria do meu prédio.

Depois de anos e anos completamente ignorado pela mídia e pela indiarada que prefere assistir ao Big Brother, o Masp voltou a ser assunto. Que absurdo, diziam alguns. País ridículo, diziam outros. Como tem gostosa no BBB, diziam terceiros.

Até que, milagrosamente, encontraram os quadros, numa casa sei lá onde no interior. E isso depois de encontrarem os ladrões das obras de arte, cujos antecedentes criminais são de repetidas e mal-sucedidas puxadas de carro.

Nós, búfalo letrado mais vocês 4 que às vezes acessam este blog sabemos: tá na cara que isso é marketing. Falsificaram o roubo, numa espetacular e inovadora ação viral que certamente vai ganhar prêmios publicitários mundo afora.

Afinal, ninguém publicou as fotos dos bandidos. Ninguém sabe como a polícia descobriu o esconderijo. Ninguém se perguntou como é que os caras sabiam diferenciar um Van Gogh de uma Tarsila, um Volpi ou qualquer outra merda do acervo brasileiro.

O que se vê hoje é o vão do Masp ocupado por visitantes, depois de passar um tempão servindo só de escritório para os proxenetas do Parque Trianon. Parabéns aos publicitários que tiveram a idéia. E agora não tem mais um escritório para encontros com os proxenetas.


CORREÇÃO
Mais de 300 leitores do blog apontaram que um dos quadros roubados era do Picasso, não do Van Gogh. Como o blog é meu, caguei. E além do mais Picasso é muito trocadilhesco para se fazer piada.