terça-feira, 10 de junho de 2008

A Lei Dunga.

Quando a Seleção pagou o mico dos micos contra a França em 2006, chegamos à conclusão que as estrelas do futebol precisavam de vergonha na cara. Talvez também de umas bolachas na cara, e para isso chamaram Dunga (com quem todo mundo concordou na época). Aí ele ganhou a Copa América de maneira surpreendente, com direito a golaço do Júlio Batista (que é volante mas estava de atacante para ódio de muitos). Não faltou gente para elogiar e para esquecer de tudo que se sabia antes: Dunga é despreparado, cabeça dura e rancoroso, características que atrapalham muito no cargo. Agora que começou a fase complicada e essas características estão visíveis a quilômetros de distância, ninguém mais se lembra da Copa América.

A Lei Seca, assunto da vez, me faz pensar no Dunga. É preciso reduzir as mortes no trânsito, como era preciso fazer a Seleção ganhar. E faltava motivação aos jogadores, assim como falta consciência para as pessoas não dirigirem depois de encher a cara. Mas aí o que o Brasil decide fazer? Cria uma restrição exagerada para o consumo de álcool, do mesmo jeito que criou um disciplinador exagerado para o cargo de técnico canarinho. Ou seja: a Lei Seca é igualzinha ao Dunga.

Começa com polêmica. Aí os bons resultados iniciais silenciam os críticos. Mas, com o tempo, as falhas começam a ficar evidentes, o país inteiro se revolta e daqui a pouco a solução que era de todos passa a ser a cretinice de alguns.

Evidente que ninguém quer ver gente morrendo no trânsito, e que isso é muito mais importante que os resultados da nossa equipe de futebol. Mas é irritante que uma questão fundamental como educação no trânsito seja tratada de maneira tão leviana, discutida com a mesma profundidade que se usa para preferir o Maicon que o Daniel Alves na lateral direita. Ficou nas mãos de PMs mal-treinados, com bafômetros que a Constituição nos desobriga baforar e funcionando na base da intimidação. E também é irritante que tanta gente informada e esclarecida continue fingindo que acredita que tudo está resolvido e que, por causa de multas altíssimas e ameaça de perder a carteira de habilitação ninguém mais vá beber antes de dirigir - no país que tem a Inbev e é o maior mercado mundial da Fiat e da Volkswagen.

A Lei Seca usa uma roupa tão ridícula como aquela do Dunga no jogo contra Portugal.

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