quinta-feira, 29 de abril de 2010

Por que Ronaldo não pede para sair?


Já li em muitas partes e ouvi de muita gente que os interesses financeiros é que mandam. Mas está claro que não se trata disso. Porque o contrato já está firmado e pago, os comerciais já estão filmados. Se ele estivesse só cumprindo compromissos comerciais, como querem acreditar alguns jornalistas e alguns dos meus amigos, por que ele faria cara feia ao ser substituído? Porque ele faz. Fica indignado.

Ronaldo exige ser titular. E eu fico me perguntando o que leva esse cara a desejar passar a vergonha que ele tem passado. Entrar em campo para ser marcado por zagueiros 10 anos mais jovens e 30 quilos mais leves. Que genialidade é essa que ele pensa ter? A de ser o Muhammad Ali?

Eu vi nessa semana o documentário Facing Ali, e é curioso que sim, Ronaldo parece seguir seus passos. Como Ali X Foreman, Ronaldo sabota seu próprio treinamento, inexplicavelmente, tentando conhecer um novo limite para si próprio. Fuma, bebe e come mais do que seria aceitável para um pedreiro, quanto menos para um atleta de ofício. Deixa tudo para o final, aceitando todos os golpes durante toda a luta, e surpreendendo o público no final, com um ataque certeiro.

Será? Será que podemos estar por testemunhar uma das mais espetaculares vitórias pessoais da história, que seria mais um volta por cima deste sujeito inexplicável?

Ou isso, ou o Ronaldo vai deixar mais uma pergunta sem resposta na sua biografia. A se juntar às já esquecidas sobre a final de 98, às relacionadas aos travestis, a nova: o que diabos você veio fazer no Corinthians?

domingo, 11 de abril de 2010

Sorte de milionário.

Eu não sou do tipo que joga na Megasena porque tenho medo de ganhar. Veja, o dinheiro só resolve os seus problemas anteriores, de quando você precisava dele. Possuindo-o em tamanha quantidade imagine o tipo de problemas que você passa a enfrentar. Escuto no rádio sobre o paranaense que levou sozinho o prêmio de mais de 40 milhões, que a partir de agora terá que se preocupar consigo, com a família, com os amigos, com os parentes, com os inimigos e com os parentes. Terá de cumprir a difícil função de ser milionário.

Por isso não jogo mais, para não sofrer por antecipação. Já joguei e ao rabiscar aquele canhotinho na casa lotérica me senti perigosamente próximo de descobrir um segredo, uma combinação metafísica cabalística, enfim, algo importante demais para ser resolvido bovinamente, ao término de uma ridícula fila.

Lembro que nesse dia encontrei no balcão um canhoto já preenchido. Comentei com um amigo que seria injustiça para a pessoa que escolheu aqueles números dividir o prêmio comigo. Imediatamente um supersticioso tomou o papel da minha mão e apostou naquele jogo, me olhando como se eu fosse um legítimo idiota.

Sei de um outro sujeito que em casos de prêmios exorbitantes aposta sempre duas vezes com os mesmos números. Se tiver que dividir com mais gente, lhe caberão duas partes do bolo. Espantoso, e ao mesmo tempo cretino, porque a sorte nunca vai premiar alguém tão ambicioso.

Assim como nunca vai premiar aqueles outros que cismam em jogar números que têm relação com a vida pessoal, como datas de nascimento. Se a chance de você acertar aleatoriamente 6 entre 60 números é infinitamente remota, imagine pretender que cada um desses números corresponda a um ente querido?

Pensando nisso tudo, e no tal paranaense que amanhã irá a Caixa Econômica receber seus milhões, eu não registro bem a sequência dos números sorteados dita pelo rádio. Mas algo me deixa inquieto. Correndo ao site da Caixa, eles estão lá.

01 11 14 23 42 48. Sobressalto.

Porque meu pai faz aniversário num dia 01.

Eu, em Novembro, mês 11.

Minha irmã mais velha, em janeiro, dia 14.

Minha mãe nasceu em 42

Novamente meu pai, nasceu em 48.

Faltaria somente o 23, mas a irmã que nasceu no dia 14 está terminalmente grávida, e eu já não tenho dúvida sobre o dia do mês em que chegará o bebê.

Termino este texto sorrindo. Por ter escapado de ficar milionário e por ter decidido não descobrir quanto pagou a quina.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Chat Roulette, uma invenção do caralho.



Eu ouvi falar do Chat Roulette por causa deste vídeo. Fiquei curioso e finalmente arranjei um tempo para descobrir o que é o Chat Roulette: uma sala de bate-papo com pessoas escolhidas ao acaso, via webcam. Você se conecta, liga sua câmera, e conversa com quem quer que surja do outro lado. Se você não quiser conversar, clica em NEXT e aparece uma nova pessoa.

Tem uma regrinha: se você for NEXTED mais de 5 vezes em 10 minutos, você fica bloqueado por 10 minutos porque está fazendo algo errado. Por isso, é uma espécie de jogo, eles chamam assim. Não é "start a conversation", é "New game".

Me pareceu uma invenção fantástica - você pode conversar com alguém de algum lugar absolutamente distante e improvável. Onde já seja dia enquanto aqui é noite. E olhando na cara da pessoa, o desconforto de ter que puxar papo com um desconhecido, mas do conforto do seu lar. Podendo dar "Next" e fazer aquele desconhecido sumir.

Serve para alguma coisa de útil? Sei lá, pensei. Mas o Twitter patinou até se tornar útil, talvez isso seja o próximo fenômeno, vamos clicar em New game... Aparece uma caceta na tela. Hein? É. O sujeito, ao descobrir essa invenção fantástica ainda sem utilidade prática, achou uma boa idéia sacar o pau para fora da calça e mostrá-lo ao mundo.

Next, enojado pelo pinto e pelo pervertido. E... outra caceta. Next. Outra caceta. Next... imagem ruim, nublada e pixelizada. Lentamente, começo a entender: opa, uma pessoa... Uma barriga... Eita, é outra caceta.

Passei 30 minutos buscando conversar com alguém. Me senti um faxineiro de vestiário de academia, porque devo ter visto umas 60 cacetas. Conversei com um casal de Michigan, que perguntou minha música favorita dos Beatles, me mostrou seu gato de estimação. Mas aí nos despedimos, eu insisti em tentar mais alguma conversa. Mas não. Só caralhos.

Ao se verem no centro das atenções, e protegidos pela distância (de uma grade ou de uma webcam), 8 entre 10 homens do mundo respondem mostrando a genitália no Chat Roulette.

É triste, porque mostra o quanto nossa capacidade intelectual de humanos é incompatível com os nossos instintos primários, que não evoluíram na mesma proporção. Diante do desconhecido, quando você não tem nada para dizer, mostre o pau.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Homem-aranha no cruzamento.

As vezes eu entro aqui, anoto uma frase, e salvo como rascunho. A intenção é voltar outra hora, com mais tempo e um mínimo de inspiração, para transformar a anotação em texto. Na maioria das vezes, eu não volto nunca. E em muitas delas, eu encontro coisas absolutamente incompreensíveis. Como essa, que anotei no dia 15 de outubro:

Homem-aranha no cruzamento

Não tenho ideia de que diabos estava falando. Duvido que tenha visto a cena, alguém com uma fantasia na rua, por mais esquisita que seja essa cidade.

Me lembra "O Segredo dos Seus Olhos", quando o personagem principal, escritor, acorda de noite e anota algo num caderninho - dizem que é isso que escritores devem fazer. Somente para conferir na manhã seguinte que anotou a palavra "TEMO". Temor é tudo que nós na plateia estamos sentindo, com a história que se desenrola na tela, faz todo o sentido, a ponto de ser retomado mais tarde pela personagem da divina Soledad Villamil, que vê o caderninho e pergunta "O que você teme, Benjamin?".

Perdão a você que viu o filme e não me vê chegar logo ao ponto. Mas pode ser que o outro ali não tenha visto. Também, outra coisa, muita gente que viu o filme não pegou a certa nuance que eu estou para contar. Seguimos.

O Benjamin responde que nada, que foi somente algo que anotou para retomar mais tarde, provavelmente não. E, no fim (ufa, chegou) o Benjamin descobre que, assim como sua máquina de escrever defeituosa não escreve a letra A, ele se havia esquecido do A. "TEMO" era na verdade "TE aMO", e ele decide ficar com a Soledad. Talvez um pouco forçado, mas vá lá, boa sacada.

Muito melhor que "homem-aranha no cruzamento". Pelo menos funcionou e a frase anotada afinal virou texto.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Vazamento.

Seis meses morando no apartamento novo, que foi inteiramente reformado, e começa o vazamento no banheiro.

O Valdir que fez a obra volta à ribalta. Determina que aqui, ó, e só aqui, pode estar o problema. Quatro horas mais tarde, com o piso inteiramente destruído, ele vaticina:

- Rapaz, só pode ser na outra parede, só.

Ao destruir o contra-piso (que é o cimento abaixo das lajotas de cerâmica que já não existem), descobri que onde normalmente existe uma laje de concreto, há um sanduíche de duas placas de cimento recheado com 30 centímetros de terra. Terra mesmo, de jardim, coisa de prédio antigo. Bom, porque é menas quebradeira, ele me diz.

Olho para a marreta. Olho para o vão livre entre as placas de cimento e para a terra retirada, que se esparrama pelo corredor. Vejo minha mão acertar o Valdir com a marreta e ocultar seu corpo no vão, coberto de terra, de cimento e de vingança.

Seria o crime perfeito. Mas a porra do vazamento continuaria.

Homem que tem filho.

Quando um homem que tem filho começa um novo relacionamento, a nova mulher tem que aceitar condições.

Tem que entender que o homem vai dedicar todo tempo possível do fim de semana ao filho. Tem que abrir mão de algumas coisas por causa de um amor que ela não compartilha, e se há uma coisa que mulher gosta de sentir nessas horas é ciúme.

O homem acorda cedo no fim de semana, pega estrada, engarrafamento, para ver o menino por algumas horas. Com ele, o homem perde a noção do tempo. E perde dinheiro, torra dinheiro com brinquedos e viagens e todo tipo de exageros. No fim de um dia de dedicação, o homem está lá com uma cara de besta, sorridente e exausto.

Como não encontrou o garoto no fim de semana passado, o homem ficou deprimido. É como se lhe tivessem tirado um pedaço, e a semana teve cinquenta intermináveis dias, porque o homem ficou contando os minutos até o próximo longínquo sábado, quando encontraria o menino.

A mulher faz força para não se irritar. Ela luta para não chamar o homem de egoísta, e disfarça a careta toda vez que olha para o lado e vê os ombros caídos do homem, que responde tudo com um fiapo de voz. É um paradoxo: naquele fim de semana sem o filho, que seria só dela, o homem estava um trapo. E nesse de agora, quando terá o filho, o homem estará imensamente feliz, mas não será inteirinho dela, ao menos por algumas horas.

Esse vai ser o meu discurso de hoje à noite. Porque o meu filho é o surf, e o fim de semana promete.

Olhando pelo lado bom: ele ao menos não é filho de nenhuma ex.