quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Romântico.

Assisti a um filme de arte perturbador. É da década de 60. Vemos a foto de um sorriso, em close. Mas essa foto dá lugar a uma outra quase idêntica, em que o sorriso está um pouco menos evidente. E assim vai, foto a foto, até o sorriso desaparecer e a expressão da boca ficar terrivelmente séria.

Vi também uma obra interessante: um quarto de casal pintado de branco. Cama, todos os móveis, as paredes e os objetos de decoração, inteirinho branco. Mas o quarto está cortado pela metade. É um tributo ao divórcio. Segundo a artista, que também fez o filme acima e mais algumas outras coisas notáveis, o quarto ilustra a manhã em que ela acordou e descobriu que seu marido na época, um tal Anthony Cox, havia dado no pé.

Eu gostei das obras porque me lembram umas coisas que vi do Cildo Meirelles, um brasileiro genial que só agora caiu nas graças da Tate Modern. Gostei também porque são antigas, como disse no começo, são da década de 60.

E finalmente, gostei porque são da Yoko Ono.

Uma artista absolutamente criativa, original, que surgiu em Londres e arrasou em Nova York, a ponto de chamar atenção de um dos 4 caras mais famosos do mundo na época. E que, ao se casar com ele, abriu mão de ter uma carreira, de ser reconhecida como artista. Pior, teve que aguentar mais pedras e merdas que a Geni do Chico Buarque. Por causa da Yoko os Beatles acabaram, o cara abandonou o rock para gravar músicas cheias de berros e barulhos. E Imagine.

Como grande admirador da música dos Beatles e de toda a aura que os caras criaram e desfrutaram, sempre me perguntei os mesmos porquês que todo mundo: o que diabos ela fez para pegar o cara? O que será que ela tinha que era tão bom, tão definitivo, a ponto dele decidir nunca mais aparecer sozinho nem em fotos? A ponto de montar uma banda não só pra tocar com ela, mas batizada com o nome dela? E I'm So Tired, que ele compôs durante uma separação deles que durou algumas semanas:

"I wonder should I call you, but I know what you would do. You'd say I'm putting you on, but it's no joke, it's doing me harm. You know I can't sleep, I can't stop my brain. You know it's three weeks, I'm going insane..."

De sair pelado, com ela, frente e verso, na capa de um disco? - foto que inclusive já invalida a suposição de que ela pudesse ser gostosa.

A resposta para todas as perguntas, que todo mundo ignorou embora o cara sempre repetisse nas entrevistas: "o gênio do casal não sou eu. É ela."

Eu percebi olhando para essa foto, na capa de uma Rolling Stone antiga. A última que os dois tiraram juntos, em 8 de dezembro de 1980, poucas horas antes do assassinato.


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