segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dave Methods Band.

Fui ao show do Dave Matthews Band ontem. O trocadilho explica tudo. Porque foi o show mais certinho que eu já assisti na vida. Todas as músicas são iguais. Todos os músicos são excelentes, virtuosos. E chatos. Cada música começava com o violãozinho do líder, depois tinha um solo da guitarra, depois um solo do violinista, depois um solo do baterista, depois uma gracinha de um negão bola 7 que tocava várias coisas. O baterista estava mascando chicletes. Não, pior, ele estava fazendo bolas com um chiclete entre um solo e outro. Nunca vi nada menos rock and roll que um baterista fazendo bolas de chiclé. Os fãs da banda, muitos conversando de costas para o palco, não se importavam com nada disso. Nem com a dancinha que o vocalista fazia vez por outra, que lembra aquelas danças que os peões de rodeio de Barretos imitaram dos peões de rodeio do Texas. Notei uma rodinha que se comportava de maneira suspeita, fiquei observando e tentando imaginar que droga essa tribo toma. Um passava para o outro rápido, da maneira mais sorrateira possível. Ecstasy? Cocaína? Ácido? Aí, num intervalo entre canções as luzes se acenderam e deu para ver: era Tic Tac de laranja.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Pedalinho.

Eu tinha uns seis anos.
Estávamos em algum lugar desses em que se leva crianças de seis anos para andar de charrete e passear no teleférico. Caldas Novas, sei lá.
Meu pai e eu subimos num pedalinho em formato de cisne. Fazia um pouco de frio e a lagoa que era o lugar dos pedalinhos era cor de barro, cheia de pequenas marolinhas causadas pelo vento, assustadora.
- O que acontece se a gente pára de pedalar, pai?
- Afunda, ué.

Para completar, logo em seguida:
- Aliás, que dor nas pernas... não agüento mais...

Até hoje eu tenho medo de cisne.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Crude Awakening.




















Acabou de rolar o Burning Man 2008.
Crude Awakening foi o nome da estátua que queimaram no de 2007. Com atraso de exatamente um ano, toco no assunto.

Para vocês, caipiras não viajados como o búfalo aqui, segue uma definição do Burning Man:
um belo dia nerds saíram de seus quartos e da frente de seus computadores e descobriram o fogo. Aí eles passaram a fazer uma fogueira anual em forma de pessoa, para celebrar o fato de poderem destruir coisas. Vai ver, como são nerds, nunca fizeram castelo na praia.

E como são nerds norte-americanos, concluíram que dava para ir mais longe. Adicionaram luzes, fogos de artifício, música eletrônica, drogas, patrocinadores e, claro, conceitos. Isso é o Burning Man. Mas, se você for jovem e não tão cansado como eu, pode chamar de Carnaval para piromaníacos... o nosso Carnaval, que é para ninfomaníacos, me parece mais mercadológico.

O conceito desse ano era protestar contra a dependência americana do petróleo. A fogueira era uma gigantesca torre petrolífera de madeira, de uns 15 metros de altura, cercada por figuras humanas gigantes feitas de aço retorcido. Assisti a um vídeo de bastidores, mostrando a confecção das tais figuras, e como só os americanos conseguem me deixar, fiquei espantado. Foram mais de 6 meses de trabalho ininterrupto, de quase 30 pessoas, para realizar as peças que seriam consumidas pelo fogo.

As figuras ficaram belas, parecendo o esqueleto do Exterminador do Futuro depois de perder a pele. Elas foram agrupadas no entorno da torre de petróleo, em poses de contrição e devoção religiosa.

Torre e pessoas instaladas, começa o espetáculo. Rojões, fogos de artifício e um fogaréu miserável. A ovação e a gritaria crescem junto com o fogo, a espera do colapso iminente da torre e de um clímax que parece óbvio. Mas epa: clímax?

Ocorre no vídeo e provavelmente a todos os presentes que fogo não sabe acabar direito. Não apaga no auge. Morre devagar, ainda mais naquela ambiência de controle e segurança que são os EUA.

Então entendi o nome: crude awakening quer dizer despertar bruto. Depois de tanto brincar com fogo, os participantes vão acordar tendo mijado na cama.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Playcount do iTunes.

Eu tenho uma neurose: detesto ter músicas não tocadas no iPod.

São 10 mil músicas, então é muito provável que numa única vida eu não conseguisse escutar todas... enfim, eu comecei admitindo que é uma neurose.

Mas vai que um dia, fuçando no iTunes em horário de expediente, descobri que dá para organizar as músicas pela quantidade de vezes em que foram escutadas. Com um clique.
Minha intenção era, neuroticamente, tocar as que nunca haviam sido tocadas. Só que no meio do caminho comecei a descobrir coisas importantes sobre a minha personalidade.

Descobri, por exemplo, que escutei I've Got a Feeling dos Beatles 29 vezes. Where's My Mind, dos Pixies, ouvi 15 vezes. Iron Man, do Black Sabbath, 22 vezes. Iron Man tem 5 minutos e meio. O que significa que eu passei mais de duas horas ouvindo o Ozzy cantar um hino ao Ultraseven. E Quelqu'un M'a Dit da Carla Bruni? 8 vezes, multiplicado por 2 minutos e 27, dá mais tempo de Carla Bruni gemendo no meu ouvido que o Sarkozy jamais sonhou.

Quando eu já estava perto de me achar melhor que o Nick Hornby, tamanha a versatilidade do meu iPod, achei Dá Um Close Nela, do Erasmo Carlos, tocada 3 vezes. Babydoll de Nylon Combina com Você, 1 vez. E Total Eclipse of The Heart (Turn Around, Bright Eyes...) 5 vezes.

Você não é o que você come: é o que você ouve. E eu me sinto meio metamorfose ambulante, ainda que não tenha escutado essa nenhuma vez.