quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Apagão.

Tem gente que ficou com medo na hora do apagão. Tem gente que ficou presa no elevador.

Eu não. Fiquei revoltado. Porque tinha visto a capa da Veja na véspera, dizendo que agora meu sucesso só depende de mim, porque o Brasil decolou.

Como é que um país que decolou fica no escuro, por 6 horas, e a única explicação é... um raio?

De onde surgiu a noção de que o Brasil virou potência, que agora vai, que nós e o Lula somos os caras? Por causa da Copa e da Olimpíada? Por causa do pré-sal, que só virou assunto depois do fracasso do Etanol (2007 o Bush veio aqui para falar disso, mas descobriram que não daria em nada, e agora focamos no petróleo).

O apagão terá sido um esporão calcâneo, aquele problema que os adolescentes enfrentam no seu processo de crescimento. E nossa marcha rumo ao topo do mundo prosseguirá, inconteste.

Vamos abrir os olhos. Ninguém fez nada de diferente para mudar uma história de 500 anos de preguiça e safadeza. Os políticos são os mesmos, o analfabetismo é o mesmo, os buracos no asfalto são os mesmos. A falta de ética, a sonegação, a bipolaridade do brasileiros seguem idênticas.

Por que é que decidimos agir como se tivessemos feito algo e agora estamos colhendo os frutos? Só porque o Obama disse que Lula é o cara? Mas a gente não acha que o Lula é uma fraude?

Pensando bem, melhor não abrir os olhos. Vai que ao se abrir está tudo escuro, porque dessa vez um parafusinho se soltou e 24 estados ficaram às cegas. Ou então melhor não reclamar do apagão.

Porque no escuro fica mais fácil não enxergar o quanto nós brasileiros gostamos de nos iludir.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O merchandising fora de controle.

Cliquei num link da Globo.com: "Brasileirão 34a. rodada. Ronaldo marca golaço."
Abriu um pop up do pacote com dois DVDs do Viva o Gordo, do Jô.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O dia em que virei homem.

Em 9 de novembro de 1989 eu tinha 14 anos.

Lembro de estar em casa, deitado no tapete de frente para a TV, esperando o tempo passar depressa para virar adulto e enfim aproveitar as copiosas aventuras que, até ali, não tinham acontecido.

Aí explodiu a vinheta de plantão urgente da Globo, com milhares de câmeras voando em volta do símbolo da emissora e aquela musiquinha das desgraças: "tantantanta tarararam... tantantantan taaaaan....". Não há um estômago humano que não se revire ao ouvir essa musiquinha.

Era para dizer que milhares de alemães orientais estavam se assanhando para cima dos soldados que guardavam o muro. Eu não entendia direito nada daquilo, mas meses antes o pau havia quebrado na China, inclusive com uma das cenas mais publicitárias de todos os tempos, do carinha com o casaco impedindo uma fila de tanques, lembra? Então. Jornalisticamente, todos se preparavam para mais um banho de sangue comunista. Enquanto isso eu, nos meus 14, estava focado em conseguir transar pela segunda vez na vida, porque a primeira tinha sido meio café com leite, e em aprender a tocar guitarra. Só.

O Plantão Urgente voltaria a qualquer momento, intervalo, uns dois comerciais imemoráveis e aí "TANTANTAN TARARARAAAAAM". De novo! Era para mostrar que os soldados alemães, ao contrário dos soldados chineses, não estavam sendo muito militares. Pelo contrário, tinha gente pulando o muro. Pulando?


A tarde seguiu assim, num clima de desentendimento. Não havia internet, TV a cabo, não havia nada. Só a Globo, Alf o ETeimoso e os plantões urgentes, e você tinha que esperar o Jornal Nacional.

Mas aí volta o plantão, e a imagem era a de um carnaval. E os alemães estavam botando para baixo, com martelos, paus, e pedaços de muro contra o muro. E pichando e rindo, gente se abraçava, e o locutor explicava que famílias que estavam separadas há décadas se reencontravam livremente, e um cara vestia o quepe do soldado, e o soldado ria e o abraçava também, todo mundo chorando de felicidade. Eu nunca tinha visto um momento histórico ao vivo. Mesmo sem entender direito o que acontecia, entendi que era para chorar também.

Foi o dia em que eu virei homem, porque eu percebi que fazia parte do mundo.