quarta-feira, 31 de março de 2010

Jovem ou velho?

Acabei de ler uma matéria sobre o Ron Wood, um dos mais enrugados Rolling Stones.

Duas coisas me chamaram a atenção: ele ter largado a esposa de décadas para ficar com uma garçonete russa de 18 anos.

E mais ainda, ele ter ficado a cara daquelas velhas de teste psicológico, sabe?

Você olha para a cara dele velho e vê uma jovem.





quarta-feira, 24 de março de 2010

Olga.


Hoje faz 4 meses que eu tenho a Olga, uma vira-lata de muita raça que resgatei, já adulta, da indigência. Um olhar foi o bastante para eu decidir cometer um dos maiores erros da minha vida, bagunçar completamente meu apartamento e a minha rotina.
Passei a ter a obrigação de acordar muito mais cedo, e a de não voltar muito tarde para casa. Eletrodomésticos da cozinha foram destruídos, como também coisas sem valor material mas muito do geralmente oposto valor sentimental: guia de ondas da Indonésia, estatueta de madeira do Chile, a rolha do vinho que eu abri para comemorar a assinatura do contrato do apartamento.
Mas após esses 120 dias dias de convivência, as surpresas negativas diminuíram. E eu já não consigo conter o orgulho quando ela senta, ao meu comando. Ou permanece imóvel, me olhando desesperadamente através da porta aberta, enquanto eu me afasto dizendo "fica... fica... fica...". Acredite: poucas coisas são mais gratificantes do que dizer "vem" depois.
Estávamos caminhando um dia desses, é delicioso ouvir os elogios que ela recebe por ser tão bonita, ter uma cara tão feliz. Às vezes é particularmente bom, quando eu consigo que ela sente para receber os elogios, que então transbordam. Ela, que afinal é menina, adora. Como me adora, incondicionalmente, seguindo cada um dos meus passos e respondendo, com uma balançada de rabo, a qualquer olhar meu lançado em sua direção.
Talvez a Olga venha a ser a fêmea que mais me amou no mundo.

domingo, 21 de março de 2010

Deus castiga.

Eu ganhei um celular da firma. Fui aconselhado por todos a descartar o meu particular e a usar o chip desse celular no meu glorioso iPhone.

É feio, né? A firma vai pagar todas as minhas ligações?

Aí o cara do CPD ficou me olhando por alguns segundos, e continuou: Bom, você vai ter que desbloquear o iPhone primeiro.

Sequer registrou meu pequeno soluço ético. E prosseguiu: Entra nesse site, segue a explicação da tela, e depois é só usar o chip. Moleza.

Entrei. Segui. Meu iPhone travou com uma mensagem horrível. Restore to factory settings.

Eu perdi tudo. Contatos, músicas, telefones, emails.

E pior, não anotei o número do celular da firma.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Cerro Porteño 0 X 1 Mano Menezes.

O jogo de ontem não chegou a me irritar, como bem disse o Casagrande num determinado momento. Me parece que o Mano está seguindo a cartilha do Parreira em 94: existe jogar para ganhar e existe ganhar. A seleção de 82, assim como o Corinthians de 99 na Libertadores (não comparando os times, mas o espírito), jogava para ganhar. E aí o imponderável do futebol cresce, em catimbas, crises nervosas, erros imperdoáveis e fatais como aquela bola do Cerezo ou o pênalti para fora do Marcelinho.

O que me acalmou, apesar da chatice do jogo, foi o cuidado dos jogadores corintianos em não entrar no clima dos paraguaios. O Timão estava roubando a bola com a delicadeza de quem come um sashimi. Estava desarmando com hashis. Foi isso que trancou o jogo, especialmente no meio-campo defensivo mais eficiente que eu vi nos últimos anos: Jucilei, Elias, Ralf. Por ali os paraguaios não passaram nem com muamba.

Lembro de várias entrevistas no ano passado, em que o técnico avisava: vai ser chato, não vai ser jogo bonito, mas vai ser como tem que ser na Libertadores. Ele estabeleceu a meta de 3 pontos fora de casa, já ganhamos quatro. E agora decidiremos no Pacaembu.

E o Gordo? Não me parece que está se importando com a opinião da imprensa e da torcida. Ele fica parado de um lado, feito uma geladeira, 3 zagueiros passam o jogo tentando rodeá-lo, e o Danilo, o Dentinho, o Elias, e até o Jucilei ficam livres. Se os 3 últimos tivessem acertado a finalização, teria sido goleada. Sem dúvida o Ronaldo segue acima do peso e fora de forma. Na entrevista do intervalo ele quase não conseguiu falar com o Mauro Naves por falta de fôlego. Embaraçoso.

Mas estou sentindo firmeza no Mano.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Idéias que eu preciso patentear, número 45.

Absolut Hand Gel®.

Gel para limpar as mãos feito de vodka Absolut.

No formato da garrafa tradicional, mas com uma tampa bem sacada, pump. Você passa na mão, esfrega, e fica livre da gripe suína. Aí esguicha umas 5 vezes na boca e fica livre da monotonia.

Estou quase convencido de que sou um bosta.

Recebi uma proposta de trabalho. Mas não sei se devo aceitar. Por não conseguir decidir algo tão simples, tão cotidiano (so pedestrian, como diz um coleguinha insuportável lá da Inglaterra com quem eu preciso falar direto), estou quase certo de que sou um bosta. Não tem uma única pessoa, entre as milhares que vivem brigando dentro da minha cabeça, capaz de me aconselhar com certeza, serenamente, sobre o que fazer.

terça-feira, 9 de março de 2010

A barba.

Acabo de ler um artigo no The Guardian sobre a moda de deixar crescer a barba que tomou o mundo das celebridades. Tida desde os tempos da Grécia antiga como símbolo de masculinidade, a barba é controversa. Eu gosto e desgosto da minha, e é uma experiência sempre interessante cultivá-la para depois raspar e recomeçar do zero. Como se a barba fosse um castelo de areia construído na própria face.

Barbear-se é um momento de reflexão imprescindível, já que são 15 minutos que você precisa estar ali, sozinho, encarando seus próprios olhos refletidos, remoendo seus erros, conferindo os estragos que o acúmulo de dias está causando. Não entendo, aliás, como se pode vender aparelhos de barbear com propaganda tão medíocre, sendo que é o momento mais privado na vida do homem.

Quando você abandona o barbear, há mil nuances e interpretações. A barba crescida diz muito sobre o ânimo. Veja o John Lennon no final dos Beatles, com uma barba caótica que servia como um disfarce. Ou essa barbicha de bode do Brad Pitt, que mostra o quanto ele precisa lutar para ser mais que um sex symbol.

Eu já tive a barba imensa, quando eu queria me esconder atrás de uma moita de pelos. Foi um período de tão poucas alegrias que ver alguma coisa dar certo, nem que fossem pelos crescendo, já servia como vitória.

Hoje de manhã a raspei, somente para me surpreender de novo com o branco amarelado dos meus dentes, com a seriedade dos meus lábios e com as marcas de expressão que eu não autorizei a se instalarem mas tomaram meu rosto mesmo assim. Não sei se significa que eu tenha mudado muito em relação às minhas alegrias, se agora há muitas vitórias mais. Talvez só esteja ocupado demais para continuar questionando como antes.

O que eu sei? A barba vai continuar crescendo, e eu seguirei às vezes raspando meus pelos com prazer, outras me divertindo de ver a natureza seguir seu curso no meu rosto. E lembrando sempre que, como os pelos, as coisas mudam um pouquinho todo dia, no mundo, nos outros, no espelho.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dunga e a vitória da mediocridade.

Medíocre, na acepção da palavra, não é uma qualidade negativa. Quer dizer algo que fica entre o bom e o mau. Algo que é mediano, ou comum, anódino. Anódino, diz o dicionário, é aquilo que acalma as dores.

O que é Dunga senão um AAS para o país após o fracasso na Copa de 2006? A resposta que a CBF pode encontrar para aquela pergunta impossível que sempre acompanha as derrotas da Seleção: por quê perdemos?

O Brasil nunca foi campeão com "trabalho sério e amor à camisa", duas das babaquices que o Dunga tanto gosta de repetir. Em 2002 ganhou com Ronaldo, Gaúcho, Roberto Carlos - que caíram em desgraça por causa das "baladas" em 2006. Em 1994, levou porque tinha um dos mais rebeldes e auto-centrados jogadores da história, Romário. Não pelo Dunga: pelo Romário. E, diga-se, pelo Baggio que chutou longe.

A única vez na história em que priorizamos claramente a mediocridade foi em 90, com Lazaroni, na Seleção justamente lembrada como "Era Dunga". O agora técnico não é o capitão de 94, mas o troglodita limitado de 90. Só isso explica a decisão de levar o Grafite para a vaga do Luis Fabiano. Ele prefere ter cordeirinhos obedientes a jogadores que pensam e podem mudar o resultado da partida. Prefere o caminho ranheta, da chatice, da mesmice, em vez de futebol arte. E não sabe ganhar, porque continua puto com o mundo mesmo na vitória - lembra como ele xingou na hora de levantar a taça em 94?

Seria no mínimo inteligente ter a opção de colocar Ronaldinho Gaúcho ou o Gordo num segundo tempo contra Portugal, por exemplo. Dunga pretende insistir com seu bando de médios, com seus 11 Júlios - 10 Batistas e um César.

O Brasil é penta porque produz, em consistência, mais jogadores talentosos que os outros países. É isso que deve ser priorizado na Seleção. Trabalho sério, amor à camisa e nacionalismo nós precisamos no Congresso e nos hospitais públicos. Copa do Mundo é para ganhar, e para ganhar porque temos talento - deixemos a garra e o sangue nas veias para os argentinos.

Dunga é um anão, cercado pelo futebol nanico.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Eu tenho a mesma idade que meu pai.

Tem um filme muito lindo chamado Smoke, com roteiro do Paul Auster. Se passa num microcosmo localizado no Brooklyn, dentro de uma tabacaria. Altamente filosófico, como costuma ser a degustação dos produtos de tabacaria, tem como grande mérito a consagração que proporcionou ao Paul Auster.

Uma das muitas histórias sensacionais que o protagonista conta no filme é a do esquiador nos Alpes, que volta à montanha onde seu pai, também esquiador, morrera 20 anos antes vitimado por uma avalanche. Depois de horas de esqui, o homem se apóia num bloco de gelo para descansar. E dá de cara com o rosto congelado, de seu pai, mumificado na neve. O pai, que permaneceu conservado nos seus 30 e poucos anos, agora encara o filho, que tem a mesma idade.

Lembro sempre dessa história no dia de hoje, 1º de Março, data de nascimento do meu pai. Na verdade ele nasceu num 29 de fevereiro, já que 1948 foi ano bissexto. Foi registrado um dia depois, para que não fizesse aniversário somente a cada quatro anos.

Ainda que a providência tenha sido tomada, quem nasce num ano bissexto não consegue registrar assim tão bem a passagem do tempo. Claro que meu pai, vaidoso como todos nós da nobre linhagem de búfalos africanos machos, se cuidou, fez uns updates no hardware aqui e acolá.

Mas é na cabeça dele que o tempo parece passar lentamente. Ele conseguiu preservar a energia e o entusiasmo para recomeçar a vida pessoal e a carreira profissional quando a maioria já está pendurando as chuteiras. Ele descobre coisas velhas como se fossem novas a cada ano - na última vez que estivemos juntos, fui com ele numa loja de instrumentos musicais: ele tinha decidido comprar um violão para tocar a sério.

Lembro de papos que tivemos na adolescência, eu e ele, sobre livros, política, mulheres. Embora quase sempre discordante, nunca encontrei algum amigo cujo pai tivesse respeito idêntico pelas opiniões do filho como teve o meu. Outra coisa genial dele, absolutamente dele, a mania de transformar presentes em acontecimentos surpresa, que sempre me deixavam petrificado. Disso ele não sabe, mas as pessoas dizem que eu não consigo receber elogios, que eu não sei demonstrar que estou contente. E eu sempre tento explicar que gastei toda a minha capacidade de agradecimento crescendo com os presentes que meu pai dava.

Por tudo isso, e muito mais que nunca caberia nem no mais longo dos textos, Feliz aniversário, Búfalo Pai. Quando crescer eu quero ser jovem como você.