terça-feira, 5 de agosto de 2008

A um velho amigo.


Tem um conto do Francis Scott Fitzgerald que sempre teve significado especial para mim: um bebê nasce com um corpo de 70 anos. Logo a família percebe que o bebê se desenvolve ao contrário, ele rejuvenesce com o tempo. Num dado momento o bebê fica com a mesma idade que o pai, é quando eles são mais felizes, mas logo em seguida o bebê se torna mais jovem e inexperiente e os dois se desentendem como todo pai e filho. [desculpe se eu estraguei o trabalho do cara, leia o livro que é realmente genial, "Seis Contos da Era do Jazz"].

Sempre brinquei que teria nascido com 70 anos, porque só isso explicaria o meu mau humor e o meu ceticismo com relação à vida. Ao longo desta eu conheci e convenci muita gente de que esta hipótese poderia ser verdade, de tanto que eu sempre me esforcei em ser "maduro para a idade" - ou seja, um chato. Só que ao contrário do Benjamin Button do conto de Fitzgerald, eu não estou mais jovem com a passagem do tempo. Cada dia mais ranzinza e velho, assisto com inveja à juventude de gente que nasceu antes de mim.

Como um amigo que eu tenho há muitos anos. Ele só melhora. As histórias que compartilhamos entre cervejas e partidas de pebolim eu já esqueci. Só lembro que tínhamos perguntas, tínhamos um monte de perguntas, que o monte de gente ao redor era incapaz de responder. Eu um jovem velho de 20 anos, ele um velho jovem de 30. Éramos próximos, nos distanciamos por culpa da vida e quando nos reencontramos já éramos outros: ele um rapaz de 40 e poucos, e eu um velho de 30. Agora estamos mais distantes do que nunca. Nos vimos recentemente num safári que a manada a que pertenço fez pela França. Conversamos pouco, muito menos do que devíamos ter conversado. E agora, há 5 minutos atrás, vi as obras de arte que meu velho amigo anda fazendo em Portugal. Vi que eu posso ter continuado cheio de perguntas, mas o meu amigo não. Ele está cheio de respostas.

Ilustrações de Renato Lopes.

Um comentário:

renato lopes disse...

Procurei no meu monte de resposta, e não encontrei nenhuma a altura para usar para esse seu post. O q posso dizer, além de agradecer muito, é q tenho a mesma sensação q vc, de que qdo a gente se encontra por aí fica faltando mais conversa, mais risada, talvez mais perguntas...obrigado cara, e realmente é uma pena q a gente esteja longe, hoje seria um ótimo dia para cerjeva, pebolim e pastel

Valeu cara,

abração