quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ensaio sobre a cegueira.

Dia desses fui assistir ao "Ensaio Sobre a Cegueira". Achei ótimo, independentemente de ter lido os comentários elogiosos do próprio autor do livro, notório antagonista de adaptações cinematográficas de suas histórias.

A metáfora da cegueira branca representar a linha tênue que mantém os homens civilizados é perfeita, verdadeiramente visual e por isso o filme funciona. Vemos que a passagem do estado racional ao bestial, com gente brigando por comida ou defecando ao lado de onde come não demoraria mais que poucos dias. Bastaria não ter sobre si os olhos e o juízo dos outros para que a decência, a dignidade e a moral fossem abandonados por completo. O mal e o bem estão nos olhos de quem contempla nossas ações. Me faz pensar em Sartre, que disse que o inferno são os outros.

Mas também me faz pensar na casa da praia, domingo de manhã, após o churrasco de sábado.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Síndrome de Tourette.

Ele está no banheiro da churrascaria rodízio, é o aniversário do pai da namorada dele. Ou, seu futuro sogro, segundo a mãe da namorada dele. Está aliviando a bexiga depois de 4 chopps, uma batida de limão com cachaça e uma de maracujá que estava doce, doce de doer os molares. Não bêbado, mas já altinho. A porta do banheiro se abre - sozinha, automaticamente, porque nas churrascarias rodízio é padrão que os banheiros tenham o mais alto padrão de qualidade. Talvez para aplacar a sensação de baixeza que domina a todos depois da indulgência às carnes sanguinolentas, ao álcool e frituras.
Entra o tio da namorada. Um tio por excelência: gordão, engraçado, palmeirense, pêlos nas orelhas, narinas, dedos e todos os lugares exceto na cabeça. O tio não perde uma piada, não perde, é daqueles caras que nasceram para rir. Nada em comum com ele, que continua mijando, um pouco mais tenso porque de fato não se trata da melhor situação do mundo a compartilhar com um tio de namorada desagradável. O tio estaciona seu gordo corpo diante do mictório adjacente. Solta um tremendo peido e ri gordamente. Ele sorri de volta, enojado. O tio retribui o nojo olhando para seu pau e soltando um risinho debochado, que implicita uma opinião sobre o tamanho de seu dote. Ele balança o pau, terminou de mijar. E diz, justo ele que quase nunca fala com o tio, muito menos para falar de coisas pessoais, ele diz:
- Gostou? Já já vai estar dentro da sua sobrinha.