quinta-feira, 27 de maio de 2010

A maior solidão da minha vida.



Nessa época de Copa, além de xingar o técnico da Seleção seja ele quem for, somos forçados ao velho balanço das competições passadas. É o típico assunto contagioso, como quando alguém fala do assalto que sofreu ou de uma batida de carro, e os que estão ao redor contam dos seus assaltos e batidas e por aí vai.

Assunto Copa geralmente começa com a de 82. É impressionante para mim a clareza de detalhes dos relatos sobre aquela Seleção, a melhor e mais injustiçada da história. Além de revelar a idade de quem conta, a Copa de 82 é cheia de memórias doloridas e vívidas: o cara vendo o pai chorar, aquele menino na capa do JT. Eu lembro que saí da casa do meu tio onde assistíamos ao fracasso, o churrasco queimando esquecido na churrasqueira, e que a casa vizinha estava em reforma. Monte de areia na calçada, e três fileiras de telhas de barro escoradas no muro. Chutei uma por uma, elas se quebravam com facilidade. Aí meu pai me tocou no ombro - tocou, com delicadeza, veja bem. Me viu ali vandalizando as telhas do vizinho como um hooligan inglês, e reagiu me chamando para entrar no carro e irmos embora.

Foi o segundo momento de maior solidão da minha vida, quebrado pelo toque e pela inédita compreensão do meu pai.

O momento só do título do post foi em 94. Depois de 82 e as três Copas seguintes, ninguém mais acreditava que o Brasil seria campeão novamente. Raí? Dunga? Jogador Zinho? Eis que o Baggio corre para a bola, e isola. Eu nem vi direito o que aconteceu. Levantei correndo da sala, em direção à rua, para avisar a todo mundo que aquele merda toda tinha finalmente acabado.

A porta de madeira que dá acesso à rua se fechou atrás de mim, e eu me espantei com o silêncio lá fora. Na rua não havia sinal de Tetra. Dentro das casas o Brasil inteiro devia estar se abraçando, chorando, tendo infartos. Mas na rua se ouvia o som de fogos e de gritos abafados por paredes. Eu estava sozinho. E sem chave para abrir a porta e voltar para dentro da casa.

Toquei a campainha freneticamente, desesperadamente só. Só depois de 10 minutos alguém escutou e veio abrir.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Morreu o cachorro do Seu Chico.

Meu vizinho de 60 anos tinha um lindo labrador preto, Tufão, que de tão doente precisou ser sacrificado.
O encontrei na rua, ele me deu a notícia entre lágrimas discretas. No cachorro anterior a esse, faz 11 anos, ele havia se prometido nunca mais ter cachorro.
A gente se apega muito ao bicho, depois sofre - me dizia ele.
Eu só consegui pensar no jogo do Corinthians amanhã. Em quantas e quantas mortes eu me prometi não me apegar mais, não perder mais meu tempo com uma idiotice dessas. Futebol? Que importa o futebol?
Aí me dou conta que o Corinthians é a única maioria na vida da qual eu faço parte. Eu torço pelo time, mas muito mais pela torcida. Quero ver os meus manos corintianos felizes, orgulhosos. Crentes refeitos, já que mais uma vez puderam comprovar que a sua fé move montanhas. E, excepcionalmente neste caso, deixarei passar a piada com o tamanho do Ronaldo.
Desejo que o Corinthians garanta a seu Chico um resto de semana feliz. E que o próximo cachorro dele se chame Dentinho.