terça-feira, 9 de março de 2010

A barba.

Acabo de ler um artigo no The Guardian sobre a moda de deixar crescer a barba que tomou o mundo das celebridades. Tida desde os tempos da Grécia antiga como símbolo de masculinidade, a barba é controversa. Eu gosto e desgosto da minha, e é uma experiência sempre interessante cultivá-la para depois raspar e recomeçar do zero. Como se a barba fosse um castelo de areia construído na própria face.

Barbear-se é um momento de reflexão imprescindível, já que são 15 minutos que você precisa estar ali, sozinho, encarando seus próprios olhos refletidos, remoendo seus erros, conferindo os estragos que o acúmulo de dias está causando. Não entendo, aliás, como se pode vender aparelhos de barbear com propaganda tão medíocre, sendo que é o momento mais privado na vida do homem.

Quando você abandona o barbear, há mil nuances e interpretações. A barba crescida diz muito sobre o ânimo. Veja o John Lennon no final dos Beatles, com uma barba caótica que servia como um disfarce. Ou essa barbicha de bode do Brad Pitt, que mostra o quanto ele precisa lutar para ser mais que um sex symbol.

Eu já tive a barba imensa, quando eu queria me esconder atrás de uma moita de pelos. Foi um período de tão poucas alegrias que ver alguma coisa dar certo, nem que fossem pelos crescendo, já servia como vitória.

Hoje de manhã a raspei, somente para me surpreender de novo com o branco amarelado dos meus dentes, com a seriedade dos meus lábios e com as marcas de expressão que eu não autorizei a se instalarem mas tomaram meu rosto mesmo assim. Não sei se significa que eu tenha mudado muito em relação às minhas alegrias, se agora há muitas vitórias mais. Talvez só esteja ocupado demais para continuar questionando como antes.

O que eu sei? A barba vai continuar crescendo, e eu seguirei às vezes raspando meus pelos com prazer, outras me divertindo de ver a natureza seguir seu curso no meu rosto. E lembrando sempre que, como os pelos, as coisas mudam um pouquinho todo dia, no mundo, nos outros, no espelho.

Um comentário:

Rosário disse...

Já ouvi dizer que quando um homem jovem deixa a barba crescer pode ser sinal de desânimo com a vida... fico preocupada quando vejo algum amigo bancando o Jesus.
Numa onda inversa meu namorado tem me preocupado com sua idéia metrossexual de depilar com cera quente a barba toda. Não se fazem mais homens como antigamente, rs.