quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Vermelho e branco.

A turista alemã está sem fôlego. Um pouco por causa do calor de 39 graus, é verdade. Mas psicologicamente sem fôlego, dado o impacto da beleza do Arpoador as 11h da manhã de um sábado. Anos e anos admirando imagens das praias reluzentes, do Cristo sereno e pálido, das bundas pecaminosas do Carnaval não poderiam preparar totalmente uma européia para aquele espetáculo massacrante. Ainda menos uma européia da pequenina e gelada Schielowsee, meia hora distante de Berlim.

"Mein Gott, dieser Ort ist schön" - ela pensa, seu sonho realizado.

O pensamento é a penúltima coisa a passar por sua cabeça. A última é a bala perdida que, viajando verticalmente de cima para baixo, uma hora depois de haver sido disparada da favela do Cantagalo, lhe atravessa o crânio com a velocidade de um trem. O sangue pinga devagarinho, formando pequenos coágulos na calçada quente. Algumas gotas caem sobre as havaianas brancas que ela havia acabado de comprar na Visconde de Pirajá.

Pessoas se aglomeram ao redor do corpo, algumas gritam por socorro, outras cobrem o rosto com as mãos, pensando "que jeito besta de morrer".

Como se algum jeito não fosse besta.



Veio daqui.

Nenhum comentário: