terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Gênesis.

No hotel onde passei a virada de ano havia uma Bíblia, numa versão modernizada, com português atual. Corri os olhos pela primeira página, que narra como Deus criou o mundo em sete dias. Seis, porque no Domingo ele descansou, afinal também deve ser filho de Deus.

Fiquei pensando nas coisas que ficaram mal-resolvidas durante o processo. Tomemos a uva itália. É uma delícia, é docinha, você pode comer com a casca. Mas se morde aquela semente desgraçada de tão amarga, a experiência está arruinada. A goiaba? Acho sensacional a goiaba, mas as sementes foram diabolicamente pensadas para enroscar nas obturações mais profundas. Já no caju Ele acertou: a sementona fica do lado de fora, sem riscos.

No reino animal, sendo breve porque estou com preguiça, temos um monte de bichos que vivem se escondendo, questionando o porquê de sua existência inútil: ornitorrinco, tamanduá, pernilongo, Mallu Magalhães. Mal-acabados, não-funcionais e ainda por cima feios. É como se Deus tivesse mandado os esboços para a gráfica.

Outra coisa que deveria ser repensada é a chuva. "Mas que besteira, nós precisamos da chuva", você está aí pensando. Mas não, o que precisamos é da água. A chuva é uma maneira vulgar de distribuir a água, porque é indiscriminada e sem critério. Falta no Nordeste, sobra com exagero em Santa Catarina. Poderia perfeitamente vir por baixo da terra, como os lençóis frenáticos, de onde a água ainda sai filtrada. Evitaria as verminoses, que são outra invençãozinha sem sentido do criador.

Até mesmo aquele papo de "Deus fez a luz e viu que era boa": no Alasca e em alguns países nórdicos, há dias e dias com vinte e quatro horas ininterruptas de sol. Pergunta se eles acham bom abrir a persiana e não saber se já é hoje ou ainda é ontem?

O que eu concluo é que seis dias não foi tempo suficiente para fazer um mundo razoável. Se Deus não tinha chefe por que fez tudo com tanta pressa? Podia ter demorado catorze dias. Um mês. Seis meses, podia ter demorado um ano, se ele escolhesse ser um Deus inglês.

O que não podia ter feito, mas fez, foi escolher errado o lugar da próstata.

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