quarta-feira, 4 de março de 2009

O filho do Costinha.


Lembro de um video que apareceu faz tempo, com o Costinha e o Zico. O Costinha, para vocês garotos que lêem o blog deste búfalo já grisalho nas têmporas, foi um comediante genial cuja grande façanha era tirar a dentadura e falar palavrões cabeludaços. No video, 80 e poucos, o Costinha está meio que entrevistando o Zico, mas na verdade aproveita a oportunidade para apresentar o maior ídolo da época para o seu filho caçula. Para o constrangimento do Costinha, quando o moleque vê o Zico, cai num estado catatônico. Só consegue balbuciar: "Eu vi o Zico". O Costinha bronqueia: "Tira foto, moleque! Abraça ele! Conversa!!!". Mas o moleque só diz, com voz fininha: "eu vi o Zico!".

Embora não flamenguista, e tendo crescido no interior de São Paulo, eu também teria ficado catatônico à época, tamanha era a nossa adoração pelo Zico. Se alguns jogadores até tiveram os méritos técnicos do cara, nenhum jamais foi tão simpático, tão simples, tão gente boa quanto ele. Até o meu pai, sujeito acima de qualquer modismo, se rendia a seu carisma.

Já adulto, o Zico já barrigudo e aposentado, fui visitar o clube mantido por ele no Recreio dos Bandeirantes, o CFZ do Rio. Fui na intenção de comprar umas camisas para dar de presente, ou até ver o cara ao vivo, sabe lá. Saí da lojinha com as camisas, em direção ao campo de treinamento. A atividade estava a pleno vapor, e dava para ver o Zico corrigindo posicionamentos, dando broncas na molecada. Fiquei no alambrado, de pé ao lado de outros tantos, assistindo. E observei alguém caminhando do banco, em nossa direção. Um negão. Na nossa nada, na minha direção, olhando direto para mim. Alguém do meu lado diz: "Ih, ó lá o Adílio..."

Adílio? E agora ele já está bem pertinho, sorrindo para mim. Ele diz: "E aí, rapaz? E seu pai, tudo certo?"

Os quinze caras ao redor estão me olhando, o Adílio está me olhando. Sou o único ali a perceber que ele está me confundindo com alguém, filho de alguém importante. Quem teria coragem de desmentir o Adílio, na frente de todo mundo?

Eu respondo: "Tuuuudo..."

Adílio: "Que é isso aí? Pô, você comprou camisa? Por que não pediu pra gente, eu te dava, pô!!! Tá autografada?"

Eu: "Não..."

Adilío: "Então peraí."

Ele se vira para o campo e dá um berro para o Zico. Chama o Zico para vir autografar as minhas camisas. Eu não imagino qual seria o valor de ter camisas autografadas pelo Zico dedicadas a uma pessoa que não eu. Pior: se ele perguntasse o meu nome, eu sequer saberia dar a resposta certa, não o nome que o Adílio estava esperando. Então fiz o que podia fazer: saí andando.

Ignorei os chamados do Adílio, que afinal ainda estava do lado de dentro do alambrado. Virei as costas para ele e para o Zico, que continuava lá longe. Dizendo fininho, para mim mesmo: "Eu vi o Adílio."

2 comentários:

Maria Fernanda Moura disse...

Não acredito que vc saiu andando!

Felipe Mortara disse...

bufalino, não era leão e nem crocodilo! o que aconteceu contigo? imagina que massa ficar amigo dos caras? hahahah ir tomar um gelada com eles?