terça-feira, 17 de março de 2009

Clô, in memoriam.

Clô para os amigos, vil para os inimigos, do para todo mundo. Uma das primeiras piadas que eu aprendi sacaneava esta bicha louca. Agora me parece irônico que ele termine assim, com hemorragia no cérebro, num apartamento funcional em Brasília. Não que o Clô tenha tido alguma relevância para o país - sequer na minha vida ele teve, tirando essa piadinha e as risadas que ele provocava com o Pânico pegando no pé dele. Mas sua morte tem um quê de ironia.

É que nesse fim de semana assisti ao filme Milk - etc etc etc (por que é que na hora de batizar o filme no Brasil sempre botam um subtítulo completamente dispensável?). Coincidência que o primeiro político abertamente gay brasileiro vá para o saco justamente quando a gente aprende sobre a história de seu equivalente norte-americano. As diferenças ficam absolutamente nítidas: o cara de lá lutou pelos direitos dos gays, e aproveitou para mostrar uma grande capacidade de liderança, a ponto de convencer o sindicato dos motoristas de caminhão a fazer campanha por ele. O nosso político gay nunca, nunquinha, propôs algo pensando nos homossexuais brasileiros. Politicamente, a Marta Suplicy é muito mais bicha que o Clô. Ele sequer foi eleito por ser gay, já que era odiado pelo movimento por suas posições convencionais, seu mal humor de tia velha e sua incapacidade de ser simpático. E não é que ele precisasse se enrustir por causa do ambiente circunspecto do Congresso, porque além daquilo lá ser uma putaria completa, ninguém lhe faria censura por defender pontos de vista gays: ele possivelmente tenha sido o veado brasileiro mais conhecido da história.

Para mim, mostra claramente mais um dos motivos para o nosso atraso em relação aos americanos do norte. Lá uma bichona entra na política tendo por trás os interesses das outras bichonas, e desempenha seu papel tão bem que morre assassinado. Aqui a bichona entra na política somente para mamar o quanto deixarem, e morre caído no banheiro do apartamento.

O Clô se vai, vira purpurina, talvez deixe saudades. E o deputado federal Clô já vai tarde, mas deixa uma pergunta ano ar: será possível escrever sobre ele sem usar palavras de duplo sentido?

Um comentário:

Felipe Mortara disse...

que puta texto.
acho q nao somos contemporaneos mesmo. cara eu NUNCA tinha ouvido a piada da primeira frase! É genial! hahaha vou repetir para os da minha geração.
esse cara não acrescentou nada pro povo, mas é louco que em toda a História de alguma forma foram úteis essas personalidades inúteis e nascidas para serem achincalhadas; já pensou nisso?