E a menina cometeu o crime mais violento que existe. Suicídio.
Suicídio é tirar a vida de alguém que você conheceu desde sempre, que estava lá desde o primeiro instante, desde a sua concepção. É aquela pessoa que olhou de volta todas as vezes que você mirou um espelho ou o mostrador de uma camera digital.
Por isso é chamado de gesto extremo. Lembro da primeira vez que fui tocado por esse assunto, uma edição da revista Colors. Tinha várias cartas de suicídio reproduzidas, e me perturbou profundamente perceber a calma que as pessoas deixaram transparecer em cada uma delas.
A menina não deixou carta, escreveu uma mensagem de despedida no Twitter. É tão assustadoramente incompreensível em seu tom, quase bem humorado: Bai pipou. Foi bom brincar com vocês.
Não a estou julgando, por não conhecer que doenças do corpo ou da alma podem tê-la afligido. Falo apenas da tétrica mensagem e seu trágico contexto.
"É a mesma coisa, ué. Só que na versão moderna", me explicaram os jovens ao redor.
Não é. A carta seria encontrada após o fato consumado. Para não deixar totalmente sem explicação os que ficaram para lidar com o vazio.
Já o tweet precisa ser escrito antes, e é recebido antes. Em vez de ser uma explicação, é um aviso. É recebido por dezenas, centenas de followers. E esses, ainda que superficialmente, conhecem o autor do tweet.
O suicida para mim sempre foi alguém que ao chegar no auge da solidão, desesperou-se. A menina desesperou-se mesmo estando cercada por dezenas de pessoas.
Me fez entender as pessoas menos do que antes. E definitivamente anulou qualquer compreensão minha sobre o propósito do Twitter.
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